Perpignan, Parte 3

Festival de fotojornalismo também tem porcaria.
O truque mais manjado e desagradável na fotorreportagem é, na maioria das vezes, transformar o específico, em geral. Tipificar o particular e vincular esse quadro a um horizonte de generalização.
João Pina, fotógrafo português comete um ensaio chamado "Gangland" que, já pelo nome, (terra de bandidos, numa tradução livre), associa toda a periferia do Rio de Janeiro a prática do crime. Quem vê o trabalho, tira a conclusão que todo mundo que mora em favela é criminoso, não há uma ressalva ao contrário.
Peca por desmensurar o que pode ser igualdade ou diferença. João Pina usa a idéia de igualdade para descaracterizar, não há menção de vida honesta. E usa a diferença para discriminar, o rio de Janeiro, Brasil, é um lugar, antes de tudo, perigoso.
Fica a receita: 1- pegue uma camera; 2 - Articule com líderes locais vinculados ao crime, ou polícia, a sua presença; 3 - Crie imagens-choque; 4 - fotografe -sempre- em P/B de alto contraste, pra dramatizar; 5 - Mostre: armas, cadáveres, policiais...; 6 - Agende isso vinculando ao acontecimento das olimpíadas e à copa do mundo.
Pronto: Há de se obter um ensaio lindamente etnocentrico, superficial, isolado da realidade. Sem conhecimento da construção histórica, cultural e social dos problemas que se documenta. Como se a violência e criminalidade fossem uma opção. Ao mesmo tempo, é documento, são imagens sem retoque, feitas no local, camera direta... É por essas e por outras que acredito cada vez mais que a noção de realidade é algo que se constrói. No caso das imagens, manipular vai muito, mas muito além de usar os recursos de um photoshop.
Ruim, muito ruim. Em tempo: "Gangland"concorria ao prêmio CARE de fotorreportagem humanitária. Ainda bem que não ganhou! O prêmio foi para Carsten Snejberg, com uma reportagem sobre os imigrantes ilegais de Calais.
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Marcadores: festival de fotojornalismo, frança, Gangland, João Pina, perpignan, setembro 2010, visa pour l'image
1 Comentários:
Não é João Pinha. É João Pina. Lá que não goste do trabalho é uma coisa, agora trocar o nome ao homem, isso já é chato.
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