6 de dez. de 2008

Entrevista com Robbie Cooper. Fotógrafo, pesquisador e o projeto Immersion.


Foto: Robbie Cooper.

Immersion é o projeto do fotógrafo inglês e pesquisador da Universidade de Bournemouth , Robbie Cooper. Fotojornalista de carreira, Cooper teve o insight de fazer esse trabalho a partir da observação da fixação de crianças e adolescentes com telas de computador em internet cafés.

Assim nasceu a idéia do projeto. Gerando retratos, no mínimo, inusitados, que capturam as reações das crianças ao jogarem videogames com certa dose de violência, como Halo 3, Grand Theft Auto 4 e Call of Duty.

O projeto ainda está em andamento, e prevê ainda registrar reações de pessoas não somente aos videogames, mas também a notícias de TV, vídeos na internet ou a filmes que retratem situações de guerra. É um trabalho inserido também numa pesquisa acadêmica, no Centro de Mídia da Bournemouth University, na Grã-Bretanha, que ainda analisa as reações das pessoas do ponto de vista psicológico e sociológico.

É interessante observar que o trabalho de Cooper pode ser compreendido também como uma derivação de um gênero clássico da fotografia: o retrato. Em uma era de telas eletrônicas e informações digitais mediando as relações entre pessoas, pode-se compreender a singularidade do seu trabalho e o valor que ele suscita. Em entrevista para o AutoFoco, alguns dias atrás, Simonetta Perischetti, falava da necessidade de se compreender que linguagem e tecnologia não se dissociam, e que, uma estética também depende da tecnologia disponivel.

O trabalho de Cooper, nesse sentido é exemplar dessa confluência entre o ambiente social e psicológico que vivemos, um tipo específico de público, comportamento, e claro, de uma possibilidade de registro através de uma nova possibilidade de fotografar.

Não podemos deixar de observar que trata-se de uma pesquisa acadêmica, lotada em uma universidade. O que dilui a oposição fácil dos argumentos que contrapõem teoria e prática como dinâmicas inconciliáveis. Immersion, além de ser um trabalho que escapa desta cilada, propõe, de modo criativo um caminho possível onde a fotografia além das dimensões documentais e estéticas pode assumir o papel de fonte de produção de conhecimento.


Entrevista com Robbie Cooper:


AutoFoco: Quando e como você teve a idéia de começar este trabalho?

Robbie Cooper:
Estava fotografando na China e Coréia, observando crianças nos web cafés para o meu projeto Alter Ego. Vendo todas aquelas crianças sentadas em frente aos computadores me fez pensar nossa interação com as telas. Às vezes as pessoas não olhavam para nada fora da tela durante o tempo em que eu falava com elas.

AF: Que tipo de método você aplicou para ter essas fotos?

RC:
Eu usei uma abordagem similar a de Errol Morris. A imagem da tela de jogo era projetada em um vidro em frente da tela, como em um teleprompter. A câmera que usei era uma Red, eu quis usar tanto vídeo como fotos, a escolha da Red foi por conta da sua altíssima resolução.

AF: Você deu algum retorno às pessoas que fotografou no projeto?

RC:
Sim. Um bom número das crianças realmente curtiram ver o vídeo e suas imagens nas revistas. Eu acho que isso desmitifica a mídia para eles, porque eles não tinham tido contato com isso antes e, de repente, se viram nos impressos e on-line, fazendo algo tão comum como jogar um videogame. Eu estava preocupado a respeito disso e contactei professores após o projeto ter começado – mas a resposta dos garotos foi positiva.

AF: Que tipo de abordagem você evitou? Como, neste trabalho você obteve este resultado sem ser invasivo?

RC:
Se tornou um processo que eu curti muito com as crianças. Tentei não estar presente próximo à câmera, ficava no outro lado da sala olhando no monitor, dando um apoio as crianças enquanto elas esperavam, ajustando os consoles de videogame onde eles estavam jogando, conversando com as pessoas, ou fazendo outra coisa, enfim. Se a coisa começava a ficar muito estática, e as pessoas ficavam concentradas nas crianças filmadas, eu mudava as coisas. À medida que as crianças sentiam que elas podiam jogar sem outras pessoas ficarem interessadas nelas, ficava legal. Assim, muito da abordagem diz respeito a criar um ambiente. No estudo, nos faremos muitas filmagens nas casas deles, usando câmeras que não são invasivas. Eu estarei interessado em ver se há alguma diferença entre como eles se comportam neste ambiente doméstico e no espaço público.

AF: Este é um projeto de fotografia como também é uma pesquisa acadêmica. Como você equilibra esses dois caminhos?

RC:
A maioria dos trabalhos acadêmicos atuais serão feitos por um pesquisador, um psicólogo e um socilólogo. Eu estou estudando FACS (Family and Consumer Sciences, - Ciências da Família e do Consumidor) e tive a idéia do estudo, mas meu interesse primário são as imagens.

AF: Você está interessado em algum resultado estético nestas fotos?

RC:
Sim. Isso é muito importante também.
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Entrevista realizada por e-mail em 6 de dezembro de 2009.

Vídeo disponível:

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